Avenida da Europa inaugurada em Castelo de Vide

1 de Setembro, 2006

O Deputado Carlos Coelho foi convidado para participar na inauguração da Avenida da Europa em Castelo de Vide cuja placa foi descerrada pelo Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

 

 

O Presidente da Assembleia Municipal de Castelo de Vide produziu, na ocasião, o seguinte discurso:

 

Excelentíssimo senhor Presidente da Comissão Europeia,

Doutor José Manuel Durão Barroso,

Senhor Governador Civil,

Senhor Deputado Carlos Coelho

Excelências,

Minhas senhoras e meus senhores,

 

Castelo de Vide tem vindo, nos últimos tempos, a efectuar sucessivos reencontros com a sua História, homenageando filhos ilustres, que, ao longo dos respectivos percursos de vida, granjearam notoriedade pública a nível local, regional e mesmo nacional.

 

Desde a última Páscoa até à presente data, vários foram os antropónimos de personalidades que se distinguiram nas artes, nas letras e nas ciências estando estes hoje perpetuados em mais de uma vintena de ruas da nossa vila, facto que, para além de contribuir para uma melhor referenciação geográfica, constitui um subsídio fundamental para a promoção e valorização do nosso património, bem como para o reforço da suas características identitárias.

 

Deste património, homenageamos hoje duas prestigiadas figuras que se distinguiram nos domínios da filantropia, da benemerência, da educação, da ciência e da agricultura.     

 

Conselheiro Alfredo Carlos Le Cocq

 

Alfredo Carlos Le Cocq, filho do Comendador João José Le Cocq e de D. Maria Leonor Bachelay, nasceu em Castelo de Vide, na Freguesia de Santa Maria da Devesa, a 5 de Fevereiro de 1849.

Formou-se em agronomia em 1872 e teve uma brilhante carreira profissional, especialmente no domínio da viticultura, actividade a que sempre se dedicou.

Em 28 de Julho de 1886 foi nomeado Chefe da primeira Repartição da Direcção Geral da Agricultura, tendo vindo a ocupar este cargo durante cerca de dez anos.

Fundou diversos jornais e revistas da especialidade com uma vasta distribuição pelo país, tais como “A Agricultura do Norte”; “Vinha Portuguesa”; “Portugal Agrícola” e “Arquivo Rural”, assumindo a figura de verdadeiro apostolado dada a valia dos seus artigos para o esclarecimento dos agricultores.

 

Alfredo Carlos Le Cocq distinguiu-se pelas diversas acções e importantes estudos respeitantes à doença do sirgo no distrito de Bragança e a filoxera na região de Lisboa e Ribatejo, tornando-se um verdadeiro oficial em favor deste importante sector da vida agrícola portuguesa e numa acção benemérita em prol dos vinhateiros, sobretudo durante a grave crise vitivinícola nacional desta época.

Aos 61 anos de idade, e já depois de se ter reformado da sua intensa actividade quer como Director Geral da Agricultura, quer como deputado às cortes em várias legislaturas eleito pelo partido progressista, fixou-se em Castelo de Vide e ocupou-se da sua lavoura na quinta modelo do Prado, a qual é uma referência regional.

 

Legou, por testamento, avultados bens à Misericórdia de Castelo de Vide, incluindo a sua casa do Largo João José Le Cocq, com o objectivo de ser criado um albergue para inválidas do trabalho agrícola, o qual veio a ser inaugurado a 28 de Novembro de 1948.

Faleceu em Lisboa, a 18 de Setembro de 1921, e encontra-se sepultado em Castelo de Vide.

 

Em vida o Conselheiro recebeu vários títulos honoríficos, comendas e nomeações, nacionais e estrangeiras, em reconhecimento dos seus méritos, e após o seu perecimento vários foram as homenagens que lhe foram prestadas pelo Ministério da Agricultura.

 

Cónego Albano Vaz Pinto

 

Albano da Costa Vaz Pinto nasceu a 21 de Novembro de 1913, em Póvoa de Rio de Moinhos tendo vindo a cursar Ciências Económicas e Sociais na École Pratique des HautesÉtudes, na Sorbona, Paris. Terminou os seus estudos em 1935 e foi professor em Alcains e em Castelo Branco.

 

Foi pároco de S. João de Abrantes, professor do Seminário e do ensino técnico e liceal, em Castelo Branco, assistente diocesano da Acção Católica e assistente provincial da Mocidade Portuguesa.

 

Como Sacerdote, ao longo de 40 anos, foi um homem dedicado e com capacidade empreendedora, tenaz e empenhado nas obras que levou a cabo. Em 1948 foi transferido para Castelo de Vide, vila onde prestou relevantes serviços apostólico – comunitários, dos quais devemos destacar: a construção e fundação do Externato de Nossa Senhora da Penha, do qual foi o primeiro director, a fundação do jornal “Notícias da Minha Terra”, inúmeras obras de assistência social, tais como a construção de casas para pobres (relevando-se o Bairro de São Paulo) ou a assistência a pessoas idosas, o forte empenho na preservação do património artístico e religioso de Castelo de Vide, a promoção e realização do Congresso Nacional do Sagrado Coração de Jesus e a criação do Centro Diocesano Pastoral em Castelo de Vide

 

Albano Vaz Pinto deixou igualmente vasta obra publicada, dos quais podemos destacar, “Reparação e Amor”, 1944; “Meditações da Acção Católica” (tradução e adaptação), 1º Vol em 1948, 2º Vol em 1958 e “Sonhar para Viver”, e ainda colaboração em Reconquista, semanário de Castelo Branco, do qual foi fundador e primeiro director, na Lúmen, e no Distrito de Portalegre.

 

Este sacerdote pedagogo e jornalista, faleceu a 25 de Fevereiro de 1976, após alguns anos de doença e de um episódio infeliz, um ano antes da sua morte, paradoxalmente num momento em que Castelo de Vide vivia a Semana Santa, tendo a agitação popular falado mais alto que o respeito devido à Instituição e ao homem que a servia e representava.

 

Da obra realizada, releva-se a construção do Colégio hoje Escola Garcia d’Orta, instituição responsável pela formação e instrução de diversas gerações de homens e mulheres castelo-videnses e da região.

 

Mas para além destes dois antropónimos referentes a duas figuras de vulto da comunidade castelovidense, o presente acto pretende igualmente evocar um valor simbólico referente a uma comunidade de maiores dimensões: a Europa.

 

Avenida da Europa.

 

Das cinzas da Segunda Guerra Mundial, nasce uma nova esperança para a Europa. Estadistas corajosos como Konrad Adenauer, Winston Churchill, Alcide de Gasperi e Robert Schuman persuadiram os povos a entrarem numa nova era. Depois de muitos séculos de sangrentos conflitos, os povos europeus uniram-se e responderam afirmativamente ao desafio. Uniram-se em torno de um ideal de paz e de progresso. O que começou por ser uma visão de filósofos, ou o sonho pacificador e humanista de Victor Hugo, finalmente ganhou forma e hoje, os mesmos povos que lutaram no passado, manifestam uma vontade comum que assenta na paz, no progresso, na amizade e na cooperação.

 

Esta foi uma vontade que ganhou forma com criação de um conjunto de organismos europeus e que hoje têm como principal instituição a União Europeia.

Portugal, adere à Comunidade Económica Europeia em 1986 e desde então o país conhece importantes desenvolvimentos. (Esta comunidade passa a designar-se União Europeia, depois de um novo tratado ter sido adoptado em Maastricht em 1991 e de ter entrado em vigor em 1993). Tais desenvolvimentos no país ficam em grande medida a  dever-se às ajudas financeiras que a União Europeia tem disponibilizado ao país, mas também a uma forte vontade de progresso do povo português e a um elevado sentido de pertença que temos relativamente à Europa. E embora conheçamos o nosso posicionamento geográfico, ao qual não nos podemos alhear, a verdade é que é neste contexto e neste tempo que vale a pena sentirmos e vivermos o espírito europeu, projectando um futuro que orgulhosamente respeite o passado da nossa história mas que contemple e perspective uma ambiência europeísta em que Portugal deve ter um papel activo e preponderante.

 

Mas para além do contexto político-geográfico em que se enquadra a nossa responsabilidade de nos sentirmos também europeus, jamais podemos esquecer a nossa realidade histórico-cultural. Desde a demarcação do nosso território nacional nos períodos medievos, e durante séculos, por aqui circularam pessoas, bens e mercadorias. Militares, judeus, mercadores, viajantes, peregrinos, utilizaram ao longo da nossa história de terra de fronteira esta porta como uma entrada ou uma saída deste velho continente.

 

Hoje por esta porta, aberta e franca, continuam a circular milhares de visitantes, pelo que a nossa localização geográfica constitui obrigatoriamente um primeiro ou último olhar sobre o nosso país. Esta responsabilidade obriga-nos à distinção e à interiorização da nossa particular relação com o velho continente. E foi precisamente com este argumento que há quatro anos, ao longo deste eixo de circulação do antigo troço da estrada nacional 246-1, entretanto desclassificado, demos início a um conjunto de requalificações e beneficiações que ascenderam a cerca de 3 milhões de euros, cuja plena justificação para além de se traduzir na obtenção da melhoria da qualidade de vida e bem-estar dos nossos conterrâneos, proporciona estimular positivamente as impressões de quem nos visita.

 

Por último, permita-me ilustre Presidente da Comissão Europeia, cometer a inconfidência de lembrar o momento em que numa outra circunstância e num outro cargo, mas neste mesmo lugar de Castelo de Vide, comentou Vossa Excelência, aos meus votos de boas vindas a esta “menina bonita do Alentejo” que sua esposa - desconhecendo tratar-se de uma metáfora - ficaria naturalmente apreensiva.

 

Pode Vossa Excelência certificar-se que esta menina está hoje mais atraente do que nunca, ficando agora ainda mais notável e historicamente reconhecida pelo facto do Presidente da Comissão Europeia - de nacionalidade portuguesa graças à sua coragem visionária - anuir a presidir a este acto. Um acto simples e despretensioso, mas cheio de simbolismo, a transportar um sinal de solidariedade e convicção de que o futuro do nosso país está intrínseca e inevitavelmente relacionado com o paradigma da construção europeia.  

 

Castelo de Vide que no passado assumiu as suas responsabilidades de comunidade cooperante e vanguardista face aos desafios que a evolução das nossas sociedades enfrentaram, quer hoje reiterar a sua participação no futuro.

 

É por esta razão que com este natural orgulho de ter como testemunha o mais alto responsável europeu atribuí o nome de Avenida da Europa a esta artéria, que mais não é do que uma antiga mas modernizada porta que permite chegar à Europa ou de a Europa chegar até nós.