Políticos querem saber quais as inovações que vão mudar as nossas vidas

6 de Janeiro, 2017

Já foram ficção científica, hoje fazem parte do quotidiano e não têm leis à altura. O eurodeputado Carlos Coelho e o comissário europeu Carlos Moedas participaram esta sexta-feira, em Lisboa, num encontro com cientistas que alertaram para dez tecnologias que são, ao mesmo tempo, dez provas da incapacidade dos políticos em legislarem a tempo e horas.

A ideia é que os cientistas portugueses ajudem a identificar outras inovações para que os legisladores não voltem a correr atrás do prejuízo. O deputado europeu propõe até uma estrutura que faça assessoria de ciência e tecnologia à Assembleia da República, tal como a UTAO faz com matérias orçamentais.

As dez tecnologias identificadas como as que mais vão mudar as nossas vidas foram, aliás, encontradas por uma estrutura de assessoria do Parlamento Europeu, o STOA (Science and Technology Options Assessment), no estudo Antecipar o Futuro – 10 Tecnologias que podem mudar as nossas vidas. As dez escolhas foram:

  1. Veículo autónomos. A estrutura do Parlamento Europeu prevê que sejam milhares nas estradas da Europa nos próximos anos e questiona: “Em breve poderá ser o seu filho a levá-lo ao emprego de carro? Será que a definição de condutor responsável mudará para sempre?”
  2. Grafeno. Trata-se do “primeiro nanomaterial 2D produzido por cientistas” e é feito da grafitte, uma matéria abundante na terra. Tem uma grande variedade de aplicações e é tão resistente que tem potencialidades para substituir o aço.
  3. Impressão 3D. O STOA adverte que poderemos estar perante uma nova revolução industrial, levantando questões como a aplicabilidade na saúde (a “bio-impressão” já produziu sistemas vasculares artificiais, por exemplo) ou a segurança pública (a impressão 3D pode permitir o fabrico de armas a um número alargado de pessoas).
  4. Cursos online abertos a todos. Os cursos via Internet podem ser acedidos simultaneamente por uma grande quantidade de alunos e isso poderá alterar o paradigma de ensino.
  5. Moedas virtuais (bitcoin). Os efeitos de moedas virtuais, como a bitcoin, nomeadamente o impacto que terão nas transações financeiras no futuro, são ainda imprevisíveis.
  6. Tecnologias para usar junto ao corpo. Vão desde dispositivos físicos eletrónicos a tecidos inteligentes, que podem mudar a forma como as pessoas se vestem. Podem também alterar o modo de partilha de dados e os cuidados de saúde.
  7. Drones. A privacidade está em risco com a proliferação de aeronaves não tripuladas.
  8. Sistemas aquapónicos. Permitem o cultivo de alguns tipos de alimentos em lugares atípicos e podem ser uma solução para agricultura e pesca sustentável no futuro.
  9. Casa inteligente. Gerir o consumo de água e luz ou gerir o aquecimento através do smartphone ou do tablet já é uma realidade.
  10. Hidrogénio. Como forma de armazenamento de energia.

O eurodeputado Carlos Coelho do Partido Popular Europeu (PPE) — que falou com cientistas na Universidade de Lisboa ao lado do comissário da Ciência e Inovação — explicou ao Observador que a iniciativa que tem por base estas dez tecnologias tem por objetivo “lutar contra o divórcio entre o mundo dos legisladores e o mundo científico“. Num mundo cada vez mais frenético em que proliferam as invenções, o que tem acontecido é que “quando vem a correr, o legislador tem chegado tarde demais.”

Carlos Coelho exemplifica uma das questões que se pode colocar ao legislador: “Se o self-driving car da Google, que é uma realidade nos EUA, tiver um acidente, de quem é a responsabilidade? Do passageiro? Do condutor? Da empresa que vendeu o carro? Da autora do software? Isto não é ficção científica. Já existe e nós estamos atrasados”.

O que o eurodeputado pediu aos cientistas é que “ajudem a identificar as inovações científicas e tecnológicas que no curto prazo obriguem a alterações societais. E, dessas áreas, quais são aquelas que Portugal pode ser uma mais-valia.” Aos cientistas é ainda solicitado que “melhorem os canais de informação e que os legisladores possam beneficiar do input deles”. Como explica Carlos Coelho, “o legislador não tem de se preocupar com descobertas que fiquem no laboratório e afetem 10 ou 12 pessoas, mas sim aquelas que têm impacto na vida de muitas pessoas.”

Carlos Coelho acredita ainda que o Parlamento português ganharia em ter também uma equipa de assessoria científica. “Em Portugal, a Assembleia tem a UTAO, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, que funciona bem, mas não tem nenhuma de assessoria científica ou tecnológica. Portugal podia ter uma assessoria do género que funcionasse em rede com outros parlamentos nacionais para poupar custos”, propõe o eurodeputado do PPE. Carlos Coelho explica que, dessa forma, “se Portugal estivesse a estudar os drones, Espanha já não precisaria de o fazer”.


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