No passado dia 4 de Março, Sergei Skripal e a sua filha, Yulia, foram encontrados inconscientes num banco de jardim, em Salisbury, no Reino Unido. Skripal é um antigo agente dos serviços secretos russos. As autoridades britânicas identificaram a utilização de um agente nervoso (derivado do Novichok) para o envenenamento dos Skripal e indicaram que 38 outras pessoas foram afectadas pelo químico, numa avaliação provisória do impacto.
Carlos Coelho reagiu às notícias que têm sido veículadas sobre os acontecimentos, declarando que “o caso de Skripal não é novo. O envenenamento de Alexander Litvinenko, também no Reino Unido, em 2006, ainda está presente nas nossas memórias. Assim como está o homicídio de Anna Politkovskaia, em Moscovo, também em 2006. O que tinham em comum? A oposição ao governo de Vladimir Putin. Dois exemplos que se somam a tantos outros nomes como Boris Berezovsky, que foi encontrado morto em sua casa, no Reino Unido, em 2013. Mas também em solo russo contam-se histórias como as de Boris Nemtsov, assassinado a tiro em frente ao Kremlin ou como Natalia Estemirova, jornalista que foi raptada, assassinada e cujo corpo foi encontrado no meio de um bosque, em 2009. Há um padrão que encontramos em políticos e jornalistas que se opõem ao regime de Putin e que, com infeliz frequência, aparecem mortos em circunstâncias que nunca chegam a ser totalmente esclarecidas”. O Deputado ao Parlamento Europeu recordou que “este caso, no entanto, tem uma característica particularmente grave: trata-se da primeira vez, desde o fim da II Guerra Mundial, em que são utilizadas armas químicas em território europeu. Em 70 anos nunca havíamos assistido a um ataque químico e hoje, em pleno ano de 2018, estamos a falar de 40 pessoas afectadas por um agente nervoso. A situação é demasiado grave para ser ignorada e a União Europeia tem de ir além da natural solidariedade para com o Reino Unido e ser firme na defesa da segurança dos seus cidadãos”.
Questionado sobre o envolvimento do governo russo, que o governo britânico assegura ser real, Carlos Coelho afirmou que “a confirmar-se, trata-se de uma violação muito grave do Direito Internacional e, em particular, da Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenamento e Utilização das Armas Químicas e sobre a sua Destruição. E trata-se de um atentado flagrante à integridade, à segurança e à soberania do Reino Unido, Estado-Membro de pleno direito da União Europeia e um dos aliados da NATO. Este episódio não é um regresso à Guerra Fria, mas uma verdadeira crise. Uma crise que é mais que diplomática. É uma crise de segurança”.
O social-democrata referiu-se ainda às eleições presidenciais russas do passado dia 18 de Março, referindo que “a credibilidade de umas eleições em que o principal opositor de Putin - Alexei Navalny - é impedido de concorrer, em que assistimos a detenções de opositores e em que há apreensão de material de campanha dos movimentos da oposição está manifestamente prejudicada. Chegam-nos relatos de manipulação clara, como o transporte de eleitores, o depósito de boletins falsos nas urnas, a distribuição de cupões de descontos para os votantes e outros episódios semelhantes. Tudo isto é grave, mas não surpreende. Mas a verdade é esta: a eleição já estava enviesada e decidida antes mesmo de começar. O que se passou durante o dia acrescentou-se a uma estratégia que já assegurava uma reeleição que não foi colocada em causa em momento algum”.
Sobre o futuro das relações entre a União Europeia e a Rússia, Carlos Coelho afirmou que “há um clima de crispação entre a União e a Rússia que se tem agravado. O episódio de Skripal vem agravar relações que já estão prejudicadas por questões da maior relevância e que vão da anexação ilegal da Crimeia e Sebastopol, na Ucrânia à violação flagrante dos direitos humanos no país e nos territórios ocupados. Há ainda as suspeitas de interferência do regime de Putin em eleições nos Estados-Membros, como em França, ou em referendos como aquele que levou ao despoletar do Brexit. Tudo isto apenas para referir o que se passa em solo europeu, porque a intervenção militar na Síria levantaria outro debate sobre o compromisso da Rússia de Putin com a procura da Paz na região, com a desnuclearização, com a desmilitarização do Leste europeu e com as principais questões de segurança mundial. Não antevejo um diálogo sério e consequente a partir daqui e durante este novo consulado de Putin, que se alargará por, pelo menos, mais seis anos”.