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Barroso,Presidente da Comissão indigitado.
Gostaria de agradecer todas as questões que me foram colocadas e vou procurar responder a todas elas, algumas das quais já, aliás, respondi ontem. Quero em primeiro lugar dirigir-me aos Senhores Deputados da Grécia, que foram muito activos no debate e, mostrando o meu fair-play, felicitá-los pela vitória que tiveram no Campeonato Europeu organizado por Portugal. Quero dizer-vos que organizar um campeonato daquela dimensão é uma grande tarefa e por isso desejo os maiores sucessos aos nossos amigos gregos na organização dos próximos Jogos Olímpicos. Mesmo em relação àqueles que não vão votar em mim, quero dizer que vou mostrar o mesmo fair-play que mostro em relação à vitória da Grécia no último campeonato.
Em relação às questões concretas que organizei, as respostas em clusters, nesta matéria sou a favor dos clusters. Questões internacionais: para responder às perguntas, nomeadamente, dos Senhores Deputados Watson, De Sarnés, Schultz, Ortuondo Larrea e Kristovskis, de uma Europa forte no mundo, sou a favor de que a Europa mantenha a liderança nas questões ambientais, nomeadamente nas questões da mudança climática com Quioto. Sou a favor de que a Europa mantenha a liderança a favor de mercados abertos e justos (free and fair trade) no âmbito das negociações de Dowa e que promova uma perspectiva multilateral, quer nas questões políticas, quer nas questões comerciais. Sou a favor de que a Europa tenha uma posição activa na política de desenvolvimento, lutando nomeadamente contra a pobreza no mundo. A África, naturalmente, é uma prioridade. Mas também contra as epidemias, como a SIDA, a malária, a tuberculose. Acho que a Europa tem aqui um dever social de que não pode abdicar. É por isso também que temos de ter recursos compatíveis com as nossas ambições, nas novas Perspectivas Financeiras, tentando também cumprir os nossos compromissos quanto à declaração das Nações Unidas, chamada Declaração do Milénio e também com os nossos compromissos em Monterrey no que diz respeito à assistência ao desenvolvimento.
No que diz respeito mais concretamente à política externa, de segurança e defesa e neste contexto, refiro-me a várias perguntas, nomeadamente dos Deputados Deus Pinheiro e Wiersma, acho que devemos desenvolver uma identidade de defesa na Europa. A nova Constituição, o novo Tratado Constitucional vai ajudar-nos a consolidar essa identidade de segurança e de defesa. Penso também que podemos trabalhar com o Alto Representante, futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia. Aliás, já estou a preparar esse trabalho com Javier Solana, porque acho que aqui há um trabalho a fazer.
Passo agora à questão do Iraque de que ontem já falei, mas sobre a qual quero dizer mais alguma coisa. A verdade é que a questão do Iraque mostrou que não há ainda uma política europeia comum. Não foi o meu país que quebrou a unidade no âmbito europeu. Houve vários Membros da União Europeia que até fazem parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas que tiveram posições diferentes. Esta é a realidade. Não é a Comissão Europeia que tem de definir a política externa da União Europeia, ainda é, no nosso sistema, uma questão intergovernamental. O que eu posso dizer-vos é que, como Presidente da Comissão Europeia, procurarei trabalhar, nomeadamente com o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia previsto pelo novo Tratado, para que progressivamente haja uma política da União coerente, para que a União Europeia fale a uma só voz. Agora, a verdade é que na questão do Iraque se verificou que não é esse o caso ainda e por isso é que entendo que não é útil hoje estarmos aqui a falar em quem tinha razão. Temos agora procurar as vias para nos aproximarmos e a última resolução aprovada por unanimidade pelo Conselho de Segurança da Nações Unidas já dá elementos para essa convergência. O nosso interesse em trabalharmos conjuntamente na questão do Iraque, o nosso interesse em procurarmos uma visão comum, nomeadamente para a estabilização do Iraque, daquela região, para um Iraque independente e soberano, para um Iraque em paz consigo mesmo e em paz com os seus vizinhos. Por isso procuro responder às perguntas que me foram colocadas pelos Senhores Deputados Wurtz, Swoboda, António Costa, Napoletano, Wiersma, Frassoni, Gruber, Paasilina, e todos os outros, dizendo que no futuro, como Presidente da Comissão Europeia, se for confirmado por vós, procurarei, na medida das minhas forças, em conjunto com os Estados-Membros que haja uma visão comum, visão comum essa que não existiu visivelmente entre os Estados-Membros, nem sequer, vamos ser honestos e sinceros, dentro das nossas respectivas famílias políticas. Foi uma questão dolorosa e temos que ultrapassá-la no futuro. Mas quero dizer a respeito da questão do Iraque, como aliás, nomeadamente, a respeito da relação com os Estados Unidos, o mesmo que já vos disse ontem. Sou europeu com muito orgulho. Se for confirmado por vós como Presidente da Comissão Europeia compete-me defender o interesse geral europeu, o bem comum europeu e não a visão de política externa do país A ou do país B. Não estarei vinculado à posição de política externa deste ou daquele governo mas sim à procura de uma política externa da União Europeia.
No que diz respeito à relação com os Estados - uma questão abordada por vários dos Senhores Deputados, nomeadamente Swoboda, Mussolini, Schultz, Evans e outros - acho que é importante que a União Europeia não se defina por oposição a qualquer país ou a qualquer região. Temos uma identidade própria. Não necessitamos de nos definir como oposição aos Estados Unidos, à China, à Rússia ou a qualquer outro poder a nível global. Penso que temos interesse em envolver construtivamente os Estados Unidos da América nas grandes questões globais, nomeadamente as questões do meio ambiente e a luta contra o subdesenvolvimento e as grandes epidemias. É isso que procurarei fazer se for eleito Presidente da Comissão Europeia.
Uma outra questão que aqui foi referida tem a ver com a Turquia, que é uma das questões mais difíceis que temos pela frente. Os Deputados Grossetête, De Sarnés, Martinez, Molder e Belder, nomeadamente, falaram deste assunto. Vai ser uma decisão-chave para a União Europeia. Antes de qualquer decisão ser tomada em Dezembro, quer a Comissão Europeia, quer o Conselho, devem ouvir a opinião do Parlamento Europeu sobre esta questão. Eu não posso agora assumir ou presumir qual vai ser o resultado final deste processo. Não conheço ainda qual vai ser a posição da Comissão no relatório que está ainda a ser preparado pela Comissão Prodi, mas posso dizer-vos que concordo convosco quando dizem que é uma questão importante para debate e que qualquer decisão que venha a ser tomada deve ser conhecida e bem explicada por todos, a começar pelos deputados europeus. Quero também dizer que deve ser uma decisão que não pode ser tomada com base em considerações religiosas e aí refiro-me a alguns Senhores Deputados e digo-vos a minha convicção, nós somos uma União, uma comunidade baseada no Direito, baseada nos direitos humanos, e nunca uma União baseada em qualquer preconceito religioso. Este ponto para mim é essencial! Quero também dizer-vos, independentemente da questão da Turquia, que temos de ter uma política especial para com os nossos vizinhos. Os nossos vizinhos no Leste, nos Balcãs e no Mediterrâneo. Por isso é que ontem falei nisso como prioridade. Eu penso que a política externa da União Europeia não pode estar em todo o lado ao mesmo tempo, nem tudo é prioritário. Quando tudo é prioritário ao mesmo tempo, acaba por nada ser prioritário e o que devemos fazer, deve ser uma política construtiva para espalhar a prosperidade e a estabilidade nos nossos vizinhos imediatos, no Leste, nos Balcãs, no Mediterrâneo, para além da nossa contribuição activa nas organizações multilaterais globais, nomeadamente, nas Nações Unidas. Temos pois que reforçar as nossas relações com os nossos vizinhos imediatos porque daí também depende, em larga medida, a nossa própria segurança e a nossa própria estabilidade.
Nas questões institucionais que foram referidas, nomeadamente o processo da minha nomeação, esta questão foi colocada pelos Senhores Deputados Schultz, Swoboda, Martin, Cohn-Bendit, Ortuondo Larrea, e também pelo Deputado Dehaene. Eu compreendo as reservas que há em relação ao método que actualmente existe para escolher o Presidente da Comissão. Mas a verdade é que foram cumpridos os tratados. De qualquer forma, para mostrar a minha preocupação com esta questão, eu próprio estive disponível para aparecer em todos os grupos políticos que existem neste Parlamento, fui, portanto bem além das obrigações impostas pelo Tratado para mostrar o meu respeito pelo Parlamento Europeu. A nova Constituição Europeia, o novo Tratado Constitucional acrescenta uma dimensão política à escolha do Presidente da Comissão. Ora, depende de vós, depende, em larga medida do Parlamento Europeu para o futuro procurar com o Conselho um modo mais concreto, nomeadamente já em 2009, de fazer valer a escolha ou o critério político na selecção do Presidente da Comissão. Eu quero ser claro, e dizer que não procuro apenas ser o candidato do Conselho, embora esteja naturalmente muito honrado por ter tido o consenso, a unanimidade, o apoio no Conselho, mas se for eleito serei o candidato eleito pelo Conselho e por este Parlamento. É por isto que estou aqui a apresentar as minhas posições e a responder às vossas questões, e é isso o que vou fazer. Gostava de reiterar que se for eleito defenderei o interesse comum europeu procurando fazer frente, se for necessário, aos interesses particulares dos Estados, procurando o equilíbrio entre todos os Estados-Membros, grandes, médios ou pequenos, visto que todos são importantes. A dignidade é exactamente a mesma, independentemente da sua dimensão. Quanto à questão que foi colocada pelo Senhor Deputado Swoboda, nomeadamente a questão de eu ter apresentado a minha resignação de Primeiro-Ministro, esta decisão foi um sinal de respeito por este Parlamento. Não era correcto, no nosso sistema, nomeadamente no sistema português, onde o Presidente da República tem determinadas competências, que Portugal ficasse um mês à espera de saber se o seu Primeiro-Ministro era ou não eleito Presidente da Comissão. É por isso que eu não estou aqui a apresentar-me como Chefe do Governo. Eu sou deputado, sou deputado no parlamento português. Estou aqui como um de vós, apresentando as suas ideias e submetendo-se à vossa votação. É um sinal de respeito por este Parlamento.
Outra questão que foi aqui colocada por muitos deputados, nomeadamente De Villiers, Bonino e Carlos Coelho, foi o problema das relações Comissão-Parlamento e eu quero utilizar a expressão que utilizei no meu discurso, "cumplicidade positiva". A União Europeia avança quando estas duas instituições, a Comissão e o Parlamento Europeu, trabalham de mãos dadas, respeitando as suas competências próprias obviamente, não procurando a Comissão substituir-se ao Parlamento, nem naturalmente, o Parlamento entrar nas competências da Comissão Europeia. Mas quando estas duas instituições trabalham de mãos dadas, a Europa avança e essa será a minha orientação.
Quanto ao debate acerca do futuro da Europa e à ratificação - um problema que foi colocado pelos Deputados Schultz, Grossetête, Dehaene, nomeadamente - quero dizer que este é um debate que tem de se ganhar a nível nacional e todos os políticos, os parlamentares europeus, os parlamentares nacionais ou outros podem participar nesse debate. Como instituição, compete à Comissão dar informação credível e séria sobre o que se passa. Por isso, a tarefa da comunicação vai ser uma tarefa essencial, mas eu penso que este trabalho é um trabalho que nos exige a tal coragem política para lutar contra a apatia de que falava a Deputada Bonino e outros deputados e deputadas deste Parlamento Europeu. Pessoalmente estarei disponível para esse debate, onde me quiserem e quando me quiserem, mas repito, é um debate que tem que ser ganho ao nível nacional.
Outra questão que foi também colocada tem a ver com as escolhas dos Comissários, nomeadamente, haver ou não haver supercomissários. Esta pergunta foi-me dirigida por alguns deputados, nomeadamente pela Deputada Ludford. Eu quero dizer que na minha Comissão não quero ter apenas um supercomissário. Gostaria de ter 24 supercomissários, porque penso que há um princípio essencial que é o princípio da colegialidade. A Comissão Europeia precisa de manter este princípio. Ainda não tomei uma decisão final - só a tomarei depois da vossa confirmação - sobre a estrutura da Comissão Europeia, mas quero dizer que isso é uma responsabilidade do Presidente da Comissão Europeia, não é uma responsabilidade do Conselho Europeu, e por esta razão eu vou exercer a minha responsabilidade no que diz respeito à atribuição das diferentes pastas no âmbito da Comissão. Aqui também se aplica o princípio da colegialidade, nós não entramos nas competências de outras instituições mas o Conselho também não pode entrar nas competências da Comissão. É a minha responsabilidade e vou exercê-la.
A questão da transparência e da abertura foi-me colocada por vários deputados, nomeadamente Evans, Bonde, Ludgren, Martens e outros. Eu estou empenhado em termos uma Comissão Europeia aberta, eficaz e responsabilizável. Acho que é muito importante o papel do Parlamento Europeu de fiscalização do trabalho da Comissão. Para fazerem esse trabalho de supervisão, os Senhores Deputados têm necessidade de informação e eu estou preparado para vos dar essas informações. Continuando, aliás, deve ser reconhecido o trabalho positivo já iniciado pelo Presidente Prodi nesta matéria. O Deputado Bonde colocou algumas questões específicas e eu gostaria de lhes dar uma resposta. Já sei que lhe foram fornecidas, eu próprio colaborei nessa iniciativa, de modo informal, informações sobre toda a lista dos grupos de peritos e dos grupos de trabalho. Espero que a Comissão Europeia possa, numa base regular, oferecer a este Parlamento dados completos sobre esses grupos de trabalho e de peritos. Eu sei que a Comissão tem trabalhado conjuntamente com o Tribunal de Contas de maneira a dar toda a esta instituição. Gostaria de dizer que estou pronto para trabalhar convosco, nomeadamente com a Comissão do Controlo Orçamental, no que diz respeito ao controlo financeiro da Comissão.
Já disse que não tomei ainda uma decisão final quanto à estrutura da Comissão, mas há uma decisão que já tomei, é que o Comissário que for responsável pelo orçamento não será o mesmo que é responsável pela auditoria e controlo. Entendo que assim se garante melhor a função do controlo. No que diz respeito às questões mais gerais dos documentos e da informação, estou pronto a dar essa informação ao Parlamento. Gostava de ver convosco se é possível melhorarmos a situação corrente. Quanto ao problema dos chamados "whistleblowers", a Comissão já reviu as regras do seu pessoal e por isso o staff desta instituição tem agora a responsabilidade clara de reportar todas as irregularidades, cabendo à Comissão a obrigação de proteger os direitos dos funcionários que reportam e comunicam essas irregularidades.
No que diz respeito à questão do género e do número de mulheres na Comissão Europeia, questão esta que foi colocada ontem pelo Deputado Maaten e que hoje foi colocada pelas Deputadas Ludford, Segelström e Záborská, bem como por outros e outras. Sou a favor da igualdade de oportunidades. Sou a favor da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Acho que é um dado essencial da nossa cultura. Acho que é uma questão de direitos humanos e aí não pode haver transigências. Já disse ontem que estou determinado a ter a maior proporção que já houve até hoje de mulheres numa Comissão Europeia, mas hoje algumas das Senhoras Deputadas perguntaram-me qual é exactamente o meu objectivo. Eu vou dizer-vos qual é o meu objectivo, mas não posso assumir sozinho a responsabilidade pelo mesmo, porque também depende dos governos e aí podem ajudar-me com alguns dos vossos governos, nomeadamente aqueles que ainda não tomaram uma decisão sobre o nome do Comissário a proporme. O meu objectivo é ter entre os Comissários que venham a trabalhar comigo, um terço de mulheres. É o meu objectivo, vou lutar por ele, vou dar o máximo por ele. Não o posso garantir, mas digo-vos que estou empenhado em alcançar este resultado.
As questões económicas e sociais, nomeadamente a questão da coesão social e da Agenda de Lisboa, foi uma das questões mais colocadas pelos Deputados Schultz, Poignon, António Costa, Itälä, Figueiredo, Titley, Rasmussen, Rosati, Paasilina, Hökmark e outros. Repito, Senhores Deputados, não acreditem nas caricaturas que são apresentadas acerca do meu perfil político. Eu penso que é possível combinar uma atitude reformista no que diz respeito aos mercados por forma a que a Europa seja um dos espaços, senão o espaço mais competitivo do mundo com uma visão social. É muito difícil, claro que é. Mas temos de trabalhar nesse sentido. Não podemos, por causa da competitividade, deitar fora o modelo social europeu. Por isso é que entendo a Agenda de Lisboa como uma Agenda económica, de competitividade, mas também uma Agenda social e uma agenda de defesa do meio ambiente. Temos de fazer mais para aumentar a competição e o mercado interno e que para dar um salto tecnológico e aumentar a produtividade, investir na educação e nos recursos humanos, procurar tecnologias limpas, mas ao mesmo tempo temos de escolher uma prioridade e a prioridade deve ser o crescimento e o emprego. Esta deve ser claramente a nossa prioridade e vamos ter ocasião de defini-la aquando da avaliação intercalar da Agenda de Lisboa que está a ser preparada pelo ex-Primeiro-Ministro Wim Kok. Vamos conseguir focar, espero, a nossa prioridade no crescimento e na criação de emprego, porque são esses os factores que podem garantir de facto a agenda social. Mas só há emprego se houver crescimento económico, esta é que é a questão, é por isso que temos de aumentar a produtividade e a competitividade da Europa para poder dar emprego, que é isso que é mais pedido pelos nossos concidadãos. É por isso também que em relação ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, questão que hoje me foi colocada pelos Deputados Rasmussen, Rossati, De Vits e muitos outros, vos disse e posso dizer o seguinte: não me parece sensato pensar em rever o Tratado que criou o Pacto de Estabilidade e Crescimento, sinceramente não vamos fazê-lo. O que podemos fazer e já estão a correr algumas ideias nesse sentido é procurar interpretações flexíveis que permitam, sem pôr em causa os princípios essenciais do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que ele não prejudique as nossas hipóteses de crescimento. Isso sim, a minha orientação vai nesse sentido.
Sobre as Perspectivas Financeiras, nomeadamente para os novos Estados-Membros, respondo às questões dos Senhores Deputados Vaidere, Kósáné Kovács, Rouček, Pahor e outros. Nomeadamente para os novos Membros, considero isto uma prioridade, os novos Estados-Membros têm necessidade da coesão e da solidariedade da União Europeia como alguns de nós, incluindo o meu país , beneficiaram dessa solidariedade. Não é um jogo de soma nula, não é um jogo em que aquilo que uns ganham os outros perdem. A ajuda que pode ser dada aos novos Estados-Membros é boa para a Europa e aquilo que é bom para a Polónia, para a República Checa, para a Hungria, para os Países Bálticos, para a Eslováquia ou para a Eslovénia, é bom para o conjunto da Europa. Estou convencido de que o crescimento destes países vai ser um contributo importante para o crescimento global da União Europeia e por isso proponho-me defender umas Perspectivas Financeiras ambiciosas. Utilizando a base preparada pela Comissão Prodi vou defender essas Perspectivas Financeiras e aí também preciso da vossa ajuda diante do Conselho para convencer aqueles que ainda não foram convencidos quanto à importância da política de solidariedade e da política de coesão.
No que diz respeito à questão do pluralismo nos órgãos de comunicação social, questão colocada ontem pelo Sra. Deputada Napoletano e hoje pela Deputada Gruber, este é um tema muito importante que vai ao coração da nossa democracia e à questão da diversidade cultural na Europa. A Comissão já olhou para este assunto no passado, nomeadamente o seu papel, o seu Livro Verde, em meados dos anos 90. O pluralismo dos media é um princípio absolutamente reconhecido na Carta de Direitos Fundamentais e que agora já está consagrado na própria Constituição. As questões que colocam têm a ver com uma iniciativa da Comissão. Para a Comissão poder legislar nesta matéria é necessário que estejamos seguros que existe uma base legal na União Europeia. Há questões que ainda estão por esclarecer. Não podemos subestimar as dificuldades deste assunto, embora eu queira dizer, sem qualquer margem para dúvidas, que pessoalmente sou a favor do respeito integral pelos princípios do pluralismo na informação.
Queria dizer também que, em relação à questão dos OGM (Organismos Geneticamente Modificados), compreendo a sensibilidade e as inquietudes sobre esta questão. Justamente pelo facto de a mesma ser muito sensível, a União criou um quadro regulamentar global sobre os OGM de modo a garantir um sistema cientificamente fundamentado e susceptível de permitir um tratamento adequado de todas estas questões. Eu estou convicto de que este sistema deve agora ser aplicado com firmeza, com determinação, porque há aqui uma questão de credibilidade. Chegou o momento de mostrar aos cidadãos europeus e aos nossos parceiros comerciais que o sistema europeu de autorização funciona como o previsto. A verdade é que este sistema é o mais avançado do mundo e, por esta razão, não podemos perder aqui credibilidade. Quero, obviamente, que este sistema seja implementado e quero assegurar a este Parlamento que uma Comissão dirigida por mim dará a maior importância a esta matéria, que tem vindo a merecer alguns esforços.
Para terminar, gostaria de abordar as questões da concepção da União Europeia, que foram colocadas por tantos Senhores Deputados. Neste aspecto, obviamente, não posso ter o apoio daqueles que querem acabar com a Comissão Europeia e que querem acabar com a União Europeia. Não posso! Mas peço o apoio de todos aqueles que querem fazer avançar o projecto europeu, e é aqui que eu me permito discordar de alguns dos Senhores Deputados que disseram que eu tenho convicções políticas de uma determinada área e que por isso os Senhores Deputados que não são da minha área política vão votar contra mim. Francamente, não considero isso razoável. Porque assim nunca haveria, se não houver uma maioria estável neste Parlamento, nunca haveria possibilidade de escolher um Presidente da Comissão Europeia. Da mesma forma que não concordo com os Senhores Deputados que dizem que votam não contra mim, mas votam contra mim porque eu sou o candidato do Conselho. Bom, então quer dizer que não haveria nunca um Presidente da Comissão Europeia, de acordo com as regras actuais. Nós somos uma União de Estados e de cidadãos. Para mim não é incompatível e respondo à questão colocada pela Deputada Ludford e também pela Deputada que acabou de falar sobre as minhas convicções: não é incompatível termos uma grande visão e termos convicções fortes e sermos depois pragmáticos quanto ao modo da sua execução, e é assim que eu sou. Tenho convicções fortes que são inegociáveis, nomeadamente em matérias de liberdade e Estado de Direito. Defendo que a luta contra o terrorismo deve ser feita sem prejudicar as nossas liberdades fundamentais. Segurança sim, securitarismo, não. Sou a favor da liberdade como um ponto essencial. Disse claramente os meus valores: liberdade, respeito pelos direitos humanos, Estado de Direito, igualdade de oportunidades e solidariedade. Aí não podemos negociar e não há qualquer ambiguidade na minha posição. Mas como Presidente da Comissão, procurarei compromissos, com certeza, porque eu não estou aqui apenas como representante de uma família política, já que estou convencido de que é obrigação do Presidente da Comissão Europeia trabalhar com a família do PPE, com os liberais e democratas, com os socialistas e com outros deputados de vários grupos que se entendam no essencial para avançar o projecto europeu. A Europa sem compromisso não avança, Senhores Deputados. Isto não é falta de convicções, é a convicção nas virtudes do pluralismo e do compromisso e do método comunitário. Temos uma grande visão para a Europa, com certeza. Temos convicções profundas mas vamos realizá-las de forma pragmática. É por isso que voltando à imagem ontem utilizada pelo Deputado Watson e também já utilizada por mim, nomeadamente do avião que não leva ninguém no cockpit, deixem-me dizer, Senhores Deputados, a União Europeia não funciona como piloto automático. Não há nenhum sistema de aviação moderno que nos dê o segredo. A União Europeia funciona com liderança política. Funciona com coragem política e o que eu vos prometo é que procurarei exercer essa liderança política mas não de maneira sectária, procurando consensos dinâmicos, porque entendo que a Comissão Europeia pode ser o piloto nesta União Europeia que está a passar por uma fase decisiva da sua História ao concluir o alargamento da União Europeia, mostrando a nossa solidariedade, projectando paz, prosperidade, segurança e solidariedade, não apenas dentro do nosso Continente mas fora do mesmo.
É por isso que, para terminar, vos peço o vosso apoio dizendo que se for confirmado por vós, serei o Presidente da Comissão Europeia procurando unir todos os europeus, do Mediterrâneo ao Mar Báltico, dos Membros fundadores da União Europeia àqueles que acabam de entrar, dos países mais ricos aos mais pobres, dos países de maior dimensão aos de menor dimensão, procurando não apenas ser o mediador honesto que é necessário entre todas as Instituições, mas ser também um factor de unidade para fazer avançar o nosso projecto europeu. Eu sei que muitos são pessimistas em relação à Europa, mas, Senhores Deputados, tenhamos uma visão de tempo. Como é que estava a Europa há cinquenta anos? Como é que está hoje? Como é que estava a Europa há alguns anos atrás quando estava dividida pelo muro de Berlim e com os países bálticos ocupados por outra potência, onde não havia liberdade em grande parte do nosso Continente, e como é que está hoje? Nós estamos melhor hoje do que estávamos há cinquenta anos. O meu desejo é que daqui a cinquenta anos estejamos muito melhor do que estamos hoje. Acredito nisso e é isso que me proponho fazer com a vossa ajuda e com a vossa solidariedade.
(Aplausos)
Vídeo da intervenção
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