O QREN em Portugal e no norte do país



1. Portugal a ficar para trás no contexto europeu

Enquanto a Europa viu o ano de 2006 como o melhor ano desta década e em 2007 vai crescer mais do que os USA devido a um forte crescimento da procura interna, a um grande aumento do investimento e ao aumento das exportações e, como consequência, já criou mais de sete milhões de novos empregos, Portugal cresce menos de metade do que cresce a Europa, não é capaz de criar novos empregos e, como vimos é, do todos os países da UE o que mais perde postos de trabalho

Em 2007 Portugal vai chegar ao ponto de apresentar o pior resultado de todos os países da União Europeia, em termos de crescimento económico.

Entre 2004 e 2007 o investimento, em Portugal caiu 24%, enquanto que na Europa, e só num semestre, cresceu 6%.

Em Portugal cai o investimento privado, cai o investimento público e aumenta o desemprego, enquanto que na Europa, nos Estados Unidos e no Japão o investimento está em franca expansão e o desemprego está claramente a diminuir.

Mas podemos acrescentar algo mais.

Portugal apresenta a carga fiscal face ao PIB mais elevada de sempre (23,8% em 2005) resultante de impostos directos e indirectos.

Se juntarmos as contribuições para a segurança social esse valor chega aos 35,1%.

Com este enquadramento alarmante o que se poderia esperar é que a despesa do Estado diminuísse

Mas tem acontecido o contrário.

A despesa do Estado tem vindo a aumentar em termos absolutos, em termos nominais e em termos reais e a redução do défice só tem acontecido por causa do aumento de receita e da diminuição do investimento público.

O Estado é o grande absorvedor de recursos, não deixa espaço para o sector privado e, como consequência, Portugal está a perder terreno face aos novos Estados Membros.

Portugal será muito rapidamente ultrapassado por República Checa e pela Estónia.

Se compararmos a evolução do produto per capita (em paridades de poder de compra), relativamente à média europeia, constatamos que enquanto, por exemplo, a Estónia vai registar um aumento de 19,6 pontos percentuais, passando de 57% em 2004 para 76,6% em 2008, Portugal, no mesmo período, verá baixar os seus valores em 2 pontos percentuais, passando de 75,2% para 73,2% e duma posição de vantagem acaba por ser ultrapassado pela Estónia.

Atrás de nós ficarão apenas a Bulgária, a Roménia, a Polónia, a Letónia, a Lituânia, a Hungria e a Eslováquia, mas todos a crescer mais que Portugal, o que significa que, por este andar e mais ano menos ano, também passarão à nossa frente.

Comparando com uma prova de atletismo em pista, em cada volta que Portugal dá, a União Europeia ganha mais de uma volta de avanço.

Dados revelados este Outono mostram que, no último ano, Portugal foi o país da Europa onde se verificou o maior aumento da taxa de desemprego que, pela primeira vez em vinte anos, passou a ser superior à da Espanha.

Esta evolução do desemprego em Portugal é de uma grande preocupação.

Dos 27 Estados-Membros da União, Portugal foi aquele que registou o maior aumento de desemprego entre Agosto de 2006 e 2007 tendo passado de 7,5% para 8,3%.

Hoje apenas a Grécia (8,4%) e a Eslováquia (11,1%) estão piores que Portugal em termos de desemprego, mas ao contrário de nós, estão a recuperar.

Durante este período a União Europeia como um todo diminuiu o seu desemprego de 7,8% para 6,7%.

No contexto de uma economia cada vez mais globalizada esta situação é particularmente grave se lhe acrescentarmos a nossa falta de inovação e a insuficiente qualificação dos trabalhadores.

A produtividade do trabalho (ajustada pela paridade dos poderes de compra) caiu, na última década, para 62% da média da Zona Euro (em 2000 era de 67%) e o crescimento do PIB potencial (uma medida do potencial de crescimento da economia portuguesa) caiu para um valor em torno de 1,5% (na década de 80 era cerca de 3%).

Assim, enquanto o mundo se globaliza, a Europa envelhece e Portugal empobrece.

Mas se esta é a situação real do nosso país no que se refere à economia no que se refere à situação social as coisas são também muito preocupantes.

São dois os critérios que normalmente são usados para tentar medir e comparar internacionalmente as situações relacionadas com a inclusão social.

Um deles mede a percentagem de população em risco de pobreza após transferências sociais (i.e. a população cujo rendimento equivalente disponível se situa abaixo dos 60% da mediana nacional do rendimento equivalente).

De acordo com este indicador, Portugal apresentava em 2005 um dos piores resultados da União Europeia (20%), quando a média da UE-25 é de 16%!

Segundo este indicador, pior que Portugal estavam apenas a Lituânia e a Polónia.

O outro critério é o da desigualdade de rendimentos, que compara o rendimento total recebido pelos 20% mais ricos com o rendimento total recebido pelos 20% mais pobres.

Em Portugal, este rácio era, em 2005, igual a 8,2 vezes (i.e. a média do rendimento dos mais ricos era superior à dos mais pobres em mais de 8 vezes). Na União Europeia este multiplicador apresentava no mesmo ano um valor médio de 4,9 vezes!

Ou seja, de acordo com este critério a desigualdade de rendimentos em Portugal é quase o dobro da que se verifica na UE!

Conclusão: Portugal é o país onde a economia menos cresce, onde o desemprego mais cresce, onde o investimento diminui, enquanto que a exclusão social e a desigualdade de rendimentos são as mais elevadas de toda a União.

Esta é a verdade, porventura dura, mas é a verdade indiscutível porque é a verdade dos factos.