O QREN em Portugal e no norte do país



3. A situação no Norte

Se Portugal regista valores preocupantes relativamente ao desemprego, a situação no Norte é ainda mais dramática.

Segundo o INE, no segundo trimestre de 2007, o Norte registava a taxa de desemprego mais elevada do país (9,4%).

O Norte é assim a região portuguesa onde a economia menos cresce e onde o desemprego mais aumenta.

O Norte de Portugal passou, em pouco tempo, de uma das regiões mais industrializadas da Europa, para uma das mais pobres da mesma Europa.

Segundo o Eurostat, se compararmos o valor do produto por habitante, em paridade de poder de compra, das 280 regiões existentes na Europa, o Norte de Portugal estava, em 2004, no lugar 237, ou seja no último quartil.
 
O Norte de Portugal registava nesse ano um produto per capita equivalente a apenas 59% da média dos 27 países que fazem parte da União.

Só encontramos regiões mais pobres no grupo de países menos desenvolvidos da União mas que estão a crescer muito mais que nós.

São eles a Bulgária, a Estónia, a Lituânia, a Letónia, a Hungria, a Polónia, a Eslovénia e a Roménia (para além de três casos pontuais: duas regiões da Grécia e a Guiana Francesa).

Segundo o mesmo indicador, a vizinha Galiza está melhor que o Norte de Portugal em 22 pontos percentuais. 

A Estremadura, a região mais pobre de Espanha, apresenta um valor superior em mais de 8 pontos ao do Norte de Portugal.
 
Aqui evoco Eugénio de Andrade que disse um dia sobre o Porto que “... O que a cidade tem, sobretudo, é carácter, um carácter que faz do cidadão do Porto o mais belo estilo de ser português”.

Só que, com esta evolução, o mais belo estilo de ser português está pobre, cada ano que passa mais pobre, embora o estilo ainda não seja propriamente o do falido ou indigente, mas se não arrepiarmos caminho para lá irá.

O Norte teve sempre a sua base económica na produção de bens transaccionáveis que sofrem, como resultado da globalização, de uma competitividade fortíssima por parte de produtores doutros países.

A globalização não tem sido nada meiga para o Norte.

Em Lisboa é muito diferente.

Lisboa especializou-se na produção de serviços: banca, seguros, administração pública, todos estes serviços tem os seus clientes em Lisboa.

No Norte onde o mercado não é protegido, há que conquistar clientes, não basta estar à espera que eles surjam.

Há que ir lá fora, conhecê-los, seduzi-los, convencê-los, conquistá-los, vender e, depois, muito importante, receber.

Este é o real significado da globalização que tornou para o Norte as coisas mais difíceis.

Em Lisboa onde o mercado está protegido, os efeitos da globalização não se fazem sentir e o esforço é incomparavelmente muito menor, porque os clientes já lá estão e não param de aumentar.

Das duas, uma: ou o país consegue montar uma estratégia para que a produção e venda no exterior de bens transaccionáveis possa aumentar significativamente e isso passa muito pelo Norte ou há que estar preparado para que o Norte e também o Centro, que em conjunto representam mais de metade da população residente em Portugal, tenham de passar a viver de políticas de apoio social.

Tenho a profunda convicção que se a Região do Norte não recuperar da actual situação será o país como um todo que estará condenado a ser o lanterna vermelha da União Europeia.

Por isso, não me cansarei de repetir que uma correcta estratégia de crescimento para o Norte, onde vive um terço dos residentes em Portugal, é meio caminho andado para que o país possa apresentar melhores indicadores em termos económicos e sociais.

Não querer ver isto, equivale a não querer um país melhor.

E a questão é política porque se o Norte tivesse ao seu alcance os meios para poder resolver e decidir coisas que Lisboa não tem tempo, sequer para perceber, tudo seria diferente.

Digo bem perceber, porque basta ver os grandes investimentos públicos, a submeter a Bruxelas até 2013, listados na página 102 do Programa Operacional Temático Valorização do Território do QREN e que totalizam um investimento de mais de 13 mil milhões de euros.

Ao Norte, onde residem dois terços dos portugueses, caberá 4,6% desse montante, ou seja, cerca de 600 Milhões Euros, que serão distribuídos apenas por três projectos, IP4 Vila Real / Quintanilha, plataforma logística de Leixões e IC 35 – Penafiel / Entre-os-Rios!

São estes e só estes os três grandes projectos públicos que se vão realizar no Norte nos próximos sete anos.

A grande fatia vai, claro está para o Aeroporto da Ota (?) e para o TGV!

Só estes dois projectos, se forem para a frente, vão absorver 88% do investimento previsto para os grandes projectos nos próximos sete anos!

Estamos assim perante uma clara insensibilidade política e social face a toda uma região.

O problema do Norte, pela sua natureza e dimensão não pode ser visto apenas como uma questão regional.

O problema do Norte é o problema do país e esse problema tem essencialmente a ver com o que é preciso fazer para nos tornarmos mais competitivos.