Num Mundo Globalizado: Mais e melhor Europa

4 de Junho, 2008

NUM MUNDO GLOBALIZADO, PRECISAMOS DE MAIS E MELHOR EUROPA

 

"Foi Portugal que inventou a globalização" afirmou em Abril de 2001 o então Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, referindo-se à epopeia dos Descobrimentos.

 

Com efeito, Ruud Lubbers, antigo Primeiro-Ministro holandês e reputado especialista internacional em matérias de globalização, identifica o fenómeno sublinhando que "as distâncias geográficas são cada vez menos importantes" e assinala a interdependência crescente nas "relações económicas, politicas e sócio-culturais transfronteiriças".

 

Este é um fenómeno claramente transversal.  Todos sentimos os efeitos da globalização. Sabemos num instante o que se passa nos nossos antípodas, do outro lado do globo, e vibramos emocionalmente como se viu aquando da tragédia de Timor-Leste.

 

Se é verdade que os indicadores económicos são indiscutíveis (cresce vertiginosamente a componente de comércio Internacional em valor bruto e em percentagem do PIB mundial), não é menos evidente que os efeitos da globalização se fazem sentir noutros domínios.

 

As facilidades dos transportes e a circulação dos bens alimentares obrigam ao redobrar das preocupações em termos de saúde pública e defesa do consumidor: as vacas loucas, a pneumonia atípica, a gripe das aves e outras ameaças, não raras vezes fizeram levantar o espectro do contágio descontrolado ou até de pandemia.

 

As ameaças ao ambiente combatem-se no plano mundial.  Cada Estado só por si pouco pode fazer.  A água potável é um recurso escasso.  A poluição dos mares, dos rios e do ar, não respeita fronteiras nem prerrogativas nacionais.

 

Os fluxos migratórios aumentam.  Nos últimos 40 anos multiplicaram-se por três. Hoje são já mais de 200 milhões de pessoas que, legal ou ilegalmente, se encontram num país diferente da sua nacionalidade e a estrutura envelhecida de algumas pirâmides demográficas acentuam esses movimentos.  Entre 1990 e 2000, 89% do crescimento populacional da União Europeia foi conseguido graças à imigração e a percentagem da população com mais de 65 anos crescerá de 13% para 23% no espaço de 50 anos (de 1975 para 2025).  Até 2030 precisamos ainda de cerca de 21 milhões de imigrantes para responder às necessidades de mão-de-obra das nossas economias.

 

Assistimos também a uma globalização do crime com um crescimento preocupante do crime organizado transnacional no branqueamento de capitais, no tráfico de droga, no tráfico de armas, no tráfico de materiais nucleares e químicos perigosos, no tráfico de seres humanos e no terrorismo.

 

Na moda, na cultura, na publicidade, na informática, sentimos igualmente os efeitos da globalização.

 

É piedosa mas inconsequente a pergunta sobre se a globalização é boa ou é .  Ela é uma inevitabilidade dos novos tempos.

 

Os países que estão mais preparados, conseguem tirar partido do fenómeno. Os que se isolam, aumentam os factores de exclusão e de pobreza.

 

A globalização gera riqueza e crescimento económico embora muitas vezes ele seja desigual e aumente assimetrias de bem-estar. Há zonas do mundo em que diminuiu o número de pessoas que sobrevivem com menos de um dólar por dia (1/6 da população mundial) mas há outras em que ele cresce.

 

O facto de 20% do Mundo consumir 80% dos recursos levou o Presidente brasileiro, Lula da Silva, a criticar "uma ordem económica em que poucos comem 5 vezes por dia e muitos passam 5 dias sem comer".

 

Portugal, ainda que o quisesse, não tem dimensão para se bater sozinho neste mundo mais global.  Também por isso a nossa integração na União Europeia é uma mais-valia.  Por isso também queremos uma UE mais eficaz e mais integrada que, ultrapassada a querela institucional, insista nas respostas que promovam o crescimento económico e o emprego, que aumentem a segurança e a qualidade de vida dos europeus e que reforcem a coesão económica e social.  Por isso também, importa ratificar o Tratado de Lisboa e seguir em frente.