A crise da França por causa do CPE

10 de Abril, 2006

CPE

Contrato de Primeiro Emprego

 

 

 

 

Desde de início de Março de 2006 que as ruas de França foram ocupadas por manifestações de estudantes e sindicatos todos unidos contra a adopção de uma lei sobre o Emprego jovem.

Fique agora a saber mais sobre esta polémica.

O que significa CPE?

CPE são as iniciais de "Contrat Première Embauche", ou seja contrato de primeiro emprego.

O que é o CPE?

Trata-se de uma lei que é parte da segunda fase de um Pacote legislativo mais amplo de medidas de luta contra o desemprego.

Para além do CPE, esta fase prevê ainda medidas legislativas:

- de exoneração de encargos sociais para a entidade patronal no caso de contratação de novos trabalhadores durante o ano de 2006;

- de protecção e revalorização dos estágios profissionais;

- de promoção da formação profissional no seio das empresas;

- de incentivo aos trabalhadores mais idosos para se reintegrarem no mercado de trabalho;

- de acompanhamento personalizado dos desempregados na busca de novo emprego;

A terceira fase deste Pacote legislativo prende-se com o financiamento da protecção social, a reforma do contrato de trabalho e a redução dos encargos relativos às horas extraordinárias.

O que prevê o CPE?

O CPE é uma lei que pretende enquadrar a contratação de jovens trabalhadores com menos de 26 anos.

O CPE aplica-se a qualquer empresa com mais de 20 trabalhadores e consiste num contrato de duração indefinida (CDI). As regras relativas ao vencimento são iguais aos contratos tradicionais.

A particularidade do CPE em relação aos contratos tradicionais é que os dois primeiros anos de contratação são vistos como um período de experiência, em que a entidade empregadora pode despedir o jovem sem qualquer obrigação de justificar o sucedido e mediante uma notificação prévia de 15 dias se o despedimento ocorrer nos seis primeiros meses e 1 mês para o resto do período de dois anos.

Após este período de 2 anos, o contrato passa a ser equiparado aos contratos de trabalho tradicionais.

Os estágios, a formação profissional e os contratos com duração determinadas são descontados do período de experiência de 2 anos.

Após 4 meses de trabalho no âmbito de um CPE, o trabalhador despedido tem direito a usufruir do fundo de desemprego.

Qual a razão de ser do CPE?

O Presidente da República, Jacques Chirac e o governo do Primeiro-Ministro Dominique de Villepin alegam que o CPE é um instrumento que permitiria a redução do desemprego jovem.

Com efeito, a França é um dos países com a taxa mais alta de desemprego entre jovens em toda a Europa. Cerca de 21.6% dos jovens na faixa etária entre 18 e 25 anos estão desempregados (Fevereiro de 2006). Este valor é mais do dobro da média nacional de desemprego, que é de 9,6%.

Em Portugal, o desemprego nos menos de 25 anos situa-se nos 16.2%, para uma média nacional de desemprego na ordem dos 7.7% (Fevereiro de 2006).

De Villepin argumenta ainda que além de aumentar as oportunidades para jovens trabalhadores, o CPE também oferece mais flexibilidade aos empregadores que temem contratar novos trabalhadores devido à rigidez do Código de Trabalho para despedimentos, caso eles não se adaptem ao cargo ou não sejam mais necessários.

Quais as principais críticas ao CPE?

A ausência de justificação para o despedimento e a duração de 2 anos do período de experiência são as principais críticas dirigidas pelos estudantes e os sindicalistas franceses.

O exemplo invocado com alguma frequência é o caso do estudante licenciado, que pretenda entrar no mercado de trabalho antes dos seus 26 anos ficaria abrangido pelo CPE e a precariedade laboral a ele associado.

Na sua alocução pública, o Presidente da República, Jacques Chirac propôs reduzir o período de experiência para um ano e obrigar empregadores a justificar os despedimentos.

Acresce ainda que esta lei já foi aprovada pela Assembleia Nacional através de um procedimento de urgência e foi inclusivamente promulgada pelo Presidente da República. Todo este procedimento legislativo realizou-se sem qualquer consulta aos parceiros sociais ou a representantes de jovens.

Por estes motivos, os estudantes e sindicalistas não querem encetar negociações a posteriori com vista à revisão da lei, mas sim que o CPE seja pura e simplesmente retirado.

Os protestos de estudantes estão relacionados com os distúrbios de rua de 2005?

O desemprego dos jovens e a falta de oportunidades foram apontados como uma das causas dos protestos violentos nos bairros mais pobres da França em 2005.

O governo acredita que a nova lei vai ajudar jovens desempregados nessas áreas, onde as taxas de desemprego nesta faixa etária chegam a 40%.

Existem outros Estados-Membros com CPE?

Não, não existe um contrato do tipo CPE noutros Estados-Membros. Os países que sofrem com taxas elevadas de desemprego junto dos jovens (Itália, Bélgica e Espanha) apostaram mais nos contratos de aprendizagem e nos contratos com duração determinada. Foi nomeadamente esta receita que permitiu à Espanha reduzir para metade em 10 anos a taxa de desemprego dos jovens.

Quais os próximos passos na crise do CPE?

Em 10 de Abril, o Presidente da República Jacques Chirac convocou um conselho de Ministros restrito para debater a posição do governo em relação ao CPE e às 10 semanas de crise, manifestações e greves que se verificaram em França.

Dessa reunião, saiu a decisão de retirar o CPE e substituí-lo por um conjunto de medidas em prol da inserção profissional de jovens com dificuldades em entrar no mercado de trabalho.