Em conferência de imprensa, realizada em Estrasburgo, foi proposta por cinco Deputados europeus do PPE, entre os quais o social-democrata Jorge Moreira da Silva, a criação de um Intergrupo sobre a Energia Nuclear designado por "NCE - Nuclear Concerns Europe".
Este Intergrupo, cuja participação será aberta a todos os Deputados europeus, tem por objectivo contribuir para a resolução de alguns problemas relacionados com a energia nuclear como, por exemplo, o armazenamento e gestão dos resíduos nucleares, o risco de contaminação radioactiva, a reformulação do Tratado EURATOM, a obsolescência das tecnologias nucleares nos Países do Alargamento, a deficiente "performance" de segurança das centrais mais antigas na União Europeia e o custo da energia nuclear.
Na conferência de imprensa, o Deputado Jorge Moreira da Silva, Relator do Parlamento Europeu para as Alterações Climáticas, criticou as recentes declarações da Comissária da Energia, Loyola de Palácio, nas quais se afirmava que a energia nuclear não emite gases com efeito de estufa e que, por essa razão, só o aumento da capacidade de produção, na União Europeia, de energia nuclear permitirá o cumprimento do Protocolo de Quioto.
Jorge Moreira da Silva afirmou que "sendo falso que seja necessário mais energia nuclear na UE para cumprir o Protocolo de Quioto, a invocação deste argumento é grave dado que procura, pela primeira vez, legitimar a energia nuclear com argumentos ambientais".
Jorge Moreira da Silva suportou esta declaração com base em estimativas oficiais da própria Comissão Europeia: "a meta atribuida à UE em Quioto é a de - 8%, o que significa que, até 2012, teremos de reduzir em 340 milhões de toneladas de CO2, as nossas emissões relativamente ao nível 1990. Ora o Programa Europeu para as Alterações Climáticas identificou 40 medidas capazes de reduzir em 765 milhões de toneladas de CO2 as emissões na UE, para o mesmo período de tempo previsto em Quioto. Isto é, existe um potencial, economicamente eficiente (dado que estas medidas têm um custo inferior a 20 euros por tonelada de CO2), de redução das emissões, na União Europeia, duas vezes superior àquilo que precisamos para cumprir Quioto. Obviamente, nenhuma destas 40 medidas inclui a energia nuclear".
O Deputado social-democrata referiu, aliás, que "algumas destas políticas estão já em fase de debate e aprovação no Parlamento Europeu, como é o caso da Directiva sobre o Comércio de Direitos de Emissão (envolvendo 5.000 empresas, da área da indústria e energia, e cobrindo mais de 46% de todas as emissões europeias de CO2) e de um primeiro pacote de dez iniciativas sobre, por exemplo, a produção conjunta de calor e electricidade, a promoção das energias renováveis, a gestão da procura energética, a definição de padrões de eficiência energética nos equipamentos de consumo, a promoção dos biocarburantes e uma nova repartição dos modos de transporte".
Jorge Moreira da Silva afirmou, por outro lado, que "a energia nuclear será sempre a forma mais cara de cumprir Quioto". É que, segundo o Deputado social-democrata, "a energia nuclear não poderá ficar, para sempre, imune a este movimento de greening da economia iniciado com o Protocolo de Quioto. Com Quioto iniciámos a internalização na economia dos custos do Aquecimento Global. O KWh da electricidade proveniente da produção a partir de combustíveis fósseis e do carvão passará a ser mais cara. Mas, dado que o Aquecimento Global não é o único problema ambiental, um dia - espero que cedo - encontraremos um 'irmão' para o Protocolo de Quioto, o qual dará lugar à internalização, no preço da electricidade, dos custos ambientais associados à energia nuclear, como a gestão de resíduos e o risco de contaminação radioactiva".