Europeus só terão direito a 40 sacos de plástico de graça por ano

28 de Abril, 2015

Dentro de dez anos, cada europeu não poderá trazer dos supermercados, sem pagar nada, mais do que um saco de plástico a cada nove dias em média. É isso o que determina uma directiva para travar o consumo de sacos de plástico, aprovada pelo Parlamento Europeu nesta terça-feira, em Estrasburgo, mas na prática já em vigor em vários Estados-membros, incluindo Portugal.

Na decisão agora adoptada, cada Estado-membro terá de seguir obrigatoriamente um de dois caminhos. Um deles é reduzir o consumo para 90 sacos por pessoa por ano até Dezembro de 2019 e 40 sacos até ao final de 2025. Esta última meta representa, em média, um saco a cada nove dias.

Em alternativa, os países podem optar por medidas que façam com que, até ao final de 2018, os sacos deixem de ser distribuídos de graça nos supermercados. É isto o que Portugal já fez, com a adopção de uma taxa de oito cêntimos mais IVA sobre cada saco, em vigor desde o princípio do ano.

Na prática, o país já estava a cumprir a nova directiva europeia antes mesmo da sua aprovação. O mesmo se passa com outros Estados-membros. Pelo menos oito já tinham legislação específica para os sacos de plástico, incluindo taxas, quando a Comissão Europeia fez, em 2013, a avaliação do impacto das futuras medidas. Dentre os que não tinham, alguns possuíam acordos voluntários com as grandes superfícies e outros estavam a preparar legislação.

A necessidade de as normas serem fixadas centralmente por Bruxelas foi questionada durante o debate que antecedeu a votação no Parlamento Europeu, nesta terça-feira. “Não se trata de uma situação em que, se a União Europeia não legislasse, os Estados-membros não o fariam”, disse a eurodeputada britânica Julie Girling.

“Isto é wishful thinking”, discorda o eurodeputado português Carlos Coelho, eleito pelo PSD. “Não tínhamos garantia de que assim o fosse”, completou, à saída do plenário.

Os números utilizados pela Comissão sobre o uso de sacos de plástico na UE, e que serviram de base para a proposta, também foram criticados. “Não há uma avaliação estatística para todos os Estados-membros”, disse Julie Girling.

Numa contabilidade feita em 2010, a Comissão estimou que, em média, eram consumidos 200 sacos por pessoa por ano na Europa. Mas Bruxelas não tinha dados sobre sete países, incluindo Portugal, e atribuiu a todos eles uma média de 466 sacos por ano. Cálculos feitos pelo PÚBLICO com base em dados da indústria sugerem outros números para o país: entre 159 e 318 sacos por pessoa.

A eurodeputada dinamarquesa Margrete Auken, relatora do Parlamento para esta questão, diz que o efeito dos sacos de plástico sobre o ambiente justificam as novas normas. “É um problema transnacional”, disse, questionada pelo PÚBLICO. “Viu os dados para Portugal? Vocês ainda têm muito trabalho a fazer”, afirmou, referindo-se à cifra dos 466 sacos por ano. Auken não tinha conhecimento de que Portugal tem uma taxa já em vigor e não soube dizer quantos Estados-membros tinham medidas semelhantes.

A directiva aprovada pelo Parlamento – na verdade uma emenda a outra directiva já em vigor, sobre os resíduos de embalagem – aplica-se aos chamados “plásticos leves”, com menos de 50 milésimos de milímetro de espessura. Mas a decisão também põe sob mira os plásticos “muito leves” – com menos de 15 milésimos de milímetro, como os que são utilizados para embalar frutas e legumes nos supermercados.

Embora não haja metas para estes sacos na nova directiva, a Comissão Europeia avaliará o impacto de alternativas para reduzir a sua utilização e proporá nova legislação no futuro, caso se mostre “apropriado”.

A Comissão fará o mesmo para os plásticos oxodegradáveis, que transformam os sacos em minúsculas partículas mas não são totalmente biodegradáves. E também fixa normas de rotulagem para estes últimos, para que não se tomem por biodegradáveis sacos que apenas se fragmentam com o tempo.

A nova directiva nasceu de uma proposta da Comissão, em 2013, que não tinha porém quaisquer metas. Apenas exigia que os Estados-membros adoptassem medidas para reduzir o uso de sacos de plástico. “A Comissão estava relutante. A sua proposta resultou em nada”, afirma Margrete Auken. Foram os Estados-membros e o Parlamento que transformaram a proposta inicial em metas calendarizadas e vinculativas.

Os eurodeputados e os governos já tinham chegado a uma acordo sobre os termos finais da directiva, agora aprovada em segunda leitura pelo Parlamento Europeu. Como não houve novas emendas, passará por uma aprovação formal automática pelo Conselho Europeu.


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