Carlos Coelho assinalou o 60º aniversário da assinatura do Tratado de Roma, em 25 de Março de 1957, pelos seis Estados-Membros fundadores da então CEE - Comunidade Económica Europeia e Euratom - Comunidade Europeia da Energia Atómica. Nesta ocasião, prestou homenagem aos pais fundadores da União Europeia e a todos os líderes nacionais corajosos que, ao longo de seis décadas, tiveram a ambição de integrar o projecto europeu, evocando o caso português, em 1986.
Em declarações, em Lisboa, o decano dos deputados ao Parlamento Europeu recordou que “há 60 anos, o que conduziu à assinatura do Tratado de Roma foi uma preocupação de fazer crescer um projecto de integração que havia nascido com o desígnio da paz. A componente económica era o passo seguinte, numa comunidade que muitos já ambicionavam política. O lançamento do mercado único e a construção das quatro liberdades de circulação foram passos extraordinários, num mundo bipolarizado e dividido pela «cortina de ferro»”. Destacou que “já na altura, o Tratado referia a «solidariedade que liga a Europa», num claro reconhecimento de que o futuro estava na transformação de um continente dividido em agendas individuais, que acabavam por ser aproveitadas por potências como a União Soviética, a Leste, agrilhoando países e povos à submissão a uma ditadura”.
Questionado sobre a Cimeira de Roma, que assinala este aniversário, o social-democrata recordou que “temos assistido a várias cimeiras e declarações de princípios, mas a pouca acção. Talvez tenha sido isso que tenha levado esta Comissão a pedir um maior compromisso dos Estados-Membros, com o lançamento do Livro Branco sobre o Futuro da Europa. Creio que o debate lançado pelos cinco cenários e pelos documentos estratégicos que se seguirão, será positivo, mas tem de envolver mais que os Chefes de Estado e de Governo. Demorámos seis décadas a passar da Europa das economias para a Europa dos Cidadãos. Não podemos demorar nem uma pequena parte disso a transformar a União Europeia numa construção de cidadania. É preciso envolver os cidadãos, as organizações da sociedade civil, as Universidades, as Escolas, os partidos políticos, todos na discussão sobre o caminho que estamos dispostos a partilhar nas próximas décadas”. Confrontado com o facto deste debate ser paralelo ao debate sobre o Brexit, respondeu que “onde alguns encontram dificuldades, eu vejo uma imensa oportunidade. Ao longo de décadas, reformas importantes foram bloqueadas pelos governos do Reino Unido, sempre conservadores face ao projecto europeu. Podemos agora, ao mesmo tempo em que negociamos a saída de um Estado-Membro, preparar o reforço daquilo que une os 27 que ficam e dar passos que eram impossíveis até aqui. Isto não significa desvalorizar a saída do Reino Unido, que lamento. Por isso mesmo, entendo que deve ser alcançado um acordo de saída que seja ideal para ambas as partes, mas que, do nosso lado, preserve os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e respeite a história partilhada, não de poucas décadas, mas de séculos, entre as ilhas britânicas e a Europa continental”.
Acerca das iniciativas para marcar este aniversário e a sua participação pessoal, referiu que “além da importante Cimeira de Roma, em que temos os Estados-Membros representados ao mais alto nível político, conforta-me muito assistir aos movimentos de cidadania que se reúnem por essa Europa fora, em «marchas pela Europa» e movimentos semelhantes. É a prova de que as pessoas não estão desinteressadas, mas que têm de ser mobilizadas. E isso só se consegue com causas”. Rematou, sublinhando: “da minha parte, entendo que devo deixar o meu contributo na comunicação europeia e na pedagogia sobre a Europa. Usarei todos os instrumentos ao meu alcance para ajudar a construir cidadãos mais informados e preparados. Só assim entendo uma Europa como construção colectiva. Uma Europa dos Cidadãos”.