Noutro sítio do mundo, acrescenta Pacheco Pereira, seria um massacre. Para a Internacional Socialista e o seu Presidente António Guterres pelos vistos não é. A não ser que os mortos negros não valham o mesmo que os mortos brancos".
Em carta endereçada a todos os seus colegas do Parlamento Europeu, Pacheco Pereira recorda que "Moçambique é um dos países mais pobres do mundo, e as cheias ocorridas no ano passado destruíram grande parte das infraestruturas físicas do país. Moçambique conheceu uma longa e terrível guerra que só terminou com um acordo de paz que implicava um conjunto de obrigações para as duas partes a FRELIMO, partido que ocupava o poder, e a RENAMO, partido que se lhe opunha".
Pacheco Pereira sublinha que "a comunidade internacional apoiou esse acordo com entusiasmo, e a paz que se lhe seguiu permitiu que Moçambique conhecesse um período de progresso e estabilidade que contrasta vivamente com a situação de outros países em África, nomeadamente Angola. Porém, refere Pacheco Pereira, tudo isto começa a ruir devido aos desenvolvimentos mais recentes da situação política em Moçambique. A forma pouco clara como correram as eleições presidenciais e legislativas, o modo partidário como foram distribuídos os apoios internacionais para as cheias, em função da fidelidade política das diferentes províncias, e a existência de actos de perseguição política aos apoiantes da RENAMO, representam sinais preocupantes da evolução da situação em Moçambique".
Para Pacheco Pereira, "esta tendência muito perigosa de inteira responsabilidade do Presidente e do Governo da FRELIMO veio a dar origem a manifestações civis anti-governamentais ocorridas nos últimos dias em várias cidades de Moçambique. Pelos cartazes erguidos pelos manifestantes, vê-se que eles pensavam que, como as democracias se comprometeram com os manifestantes pró-democracia jugoslavos, deviam ouvir os manifestantes moçambicanos. Só que África não é tratada da mesma maneira que a Europa e, sem órgãos de comunicação social presentes, nem imagens, os manifestantes estavam à mercê das autoridades que, habituadas à ditadura, consideram as manifestações um acto de guerra. Em consequência, essas manifestações foram reprimidas com grande violência pela polícia e o exército, resultando dessa repressão cerca de 35 mortos e centenas de feridos".
Na referida carta, Pacheco Pereira classifica de inadmissível que, "na mesma altura em que este massacre de manifestantes se dava em várias cidades moçambicanas", se reúna em Maputo a Internacional Socialista sob a direcção do Primeiro-Ministro português António Guterres. "Nessa reunião António Guterres sentou-se ao lado do Presidente de Moçambique e da FRELIMO, Chissano, ele próprio dirigente da Internacional Socialista".
Pacheco Pereira afirma que "o que está em causa em Moçambique é o processo de paz e seria bom que a comunidade internacional não cruzasse os braços. Seria bom que os deputados do Parlamento Europeu, no dia em que aprovam a Carta dos Direitos Fundamentais, apoiem todas as iniciativas destinadas a denunciar a situação de violência em Moçambique, a sancionar o governo e a FRELIMO no poder e a condenar a complacência de políticos europeus, que estando numa reunião da Internacional Socialista em Maputo, não condenaram com firmeza a violência, colocando os seus interesses partidários, acima dos direitos humanos".