7. Bolonha, aceite por todos?

O processo de Bolonha está longe de ser pacífico.

Com efeito, muitas são as críticas oriundas dos diversos sectores da área da educação: universidades e institutos politécnicos, sindicatos de professores e associações académicas de estudantes.

As Universidades e institutos Politécnicos

A complexidade da realidade portuguesa tem dificultado particularmente a integração do Processo de Bolonha. A pluralidade do sistema de ensino português com a existência de universidades públicas e privadas, assim como de institutos politécnicos impõe um tratamento diferenciado, respeitando as especificidades de cada um.

As universidades públicas são financiadas pelo Orçamento de Estado com base no número de alunos matriculados/ano. Ao encurtar a passagem dos alunos pelas Universidades e ao promover a mobilidade, estes estabelecimentos arriscam-se seriamente a perder uma parte significativa dos seus alunos e por isso dos seus financiamentos.

Os institutos politécnicos, que já sofriam de uma certa subalternização em relação ao ensino universitário, também lamentam perder um dos seus graus académicos: o bacharelato.

Uma das críticas mais debatidas por universidades e institutos tem sido a duração do primeiro ciclo: uma licenciatura em 3 anos. Com efeito, o Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), presidido pelo Reitor Adriano Pimpão defendeu uma licenciatura em 4 anos, mas com um modelo que não seja rígido. O fundamental é que todos os cursos das mesmas áreas tenham a mesma duração. Na argumentação do CRUP, a duração de 4 anos justifica-se também pelas lacunas e deficiências dos alunos do secundário que chegam às universidades com falta de preparação. Acresce ainda que uma licenciatura concluída em 3 anos pode trazer alguns problemas de prestígio e credibilidade, apesar de receber uma certa aceitação por parte do mercado de trabalho.

Outro elemento de crítica é a instauração do "sistema de créditos" por atribuir maior relevância ao trabalho autónomo dos alunos, o que não é habitual no sistema português. Segundo alguns, tal sistema seria implantado à custa de uma menor exigência.

As universidades e institutos politécnicos também criticam a falta de articulação entre o primeiro e o segundo ciclo. Que diploma do primeiro ciclo permite entrar em que segundo ciclo?

 

Os sindicatos de professores

Com uma maior mobilidade dos alunos, as universidades e institutos deverão investir na formação do corpo docente na área das línguas.

Os sindicatos de professores têm defendido que a reforma de Bolonha implica uma reformulação completa dos cursos e uma diminuição do número de alunos, ambas com consequências na inevitável diminuição do corpo docente.

 

As associações académicas de estudantes

Por seu lado, várias associações de estudantes criticaram o Processo de Bolonha por não terem sido suficientemente associados.

Em Março de 2001, a Convenção de Goteborg reuniu associações de estudantes europeus emitindo uma Declaração sobre o Processo de Bolonha chamando a atenção para "o forte comprometimento dos estudantes europeus no sentido de promover a alta qualidade, acessibilidade e diversidade da educação superior na Europa".

Lamentam ainda que o carácter social do ensino seja menosprezado em relação à visão economicista que Bolonha faz do ensino. Os estudantes temem ser considerados como mero consumidores de educação e pretendem que os Estados-membros assumam o acesso igual dos candidatos independentemente da sua condição social.