Os acontecimentos das últimas semanas no Reino Unido relativamente às negociações para a saída do país da União Europeia estão a colocar em causa o processo negocial, o acordo para as futuras relações e uma solução equilibrada para o Brexit. Este é o entendimento de Carlos Coelho, que vê com grande preocupação os recentes desenvolvimentos.
O Deputado ao Parlamento Europeu recordou que “o Governo britânico está a desmoronar por responsabilidade própria. A esta altura, parece que apenas a União Europeia tem um verdadeiro plano para o Brexit, tanto para si própria como para o Reino Unido. Quando aguardávamos posições definitivas da parte de Londres, o Acordo de Chequers prometia um guião claro que serviria para relançar as negociações. Afinal, o que saiu foi um Livro Branco que resultou na demissão do Ministro para o Brexit e do próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros. A 9 meses da data marcada para a saída do Reino Unido da UE, não sabemos com o que contar da parte de Downing Street e isso dificulta muito um processo negocial que ainda tem de decidir sobre as nossas futuras relações”. O social-democrata acrescentou que “ainda assim, as propostas que estão agora a ser apresentadas por Londres, parecem não ser mais do que um frágil compromisso entre a linha dura do «hard brexit» e os moderados. Não consigo perceber porque tantas propostas de levar o acordo a debate ou a votos no Parlamento são sucessivamente rejeitadas. Da parte da União, nenhum acordo será celebrado sem o voto do Parlamento Europeu, representando os milhões de cidadãos europeus. O mínimo que se espera é a mesma atitude das autoridades britânicas”. “O que precisamos é de posições claras e razoáveis. Fazer depender o pagamento das obrigações financeiras do Reino Unido com a UE do acordo sobre futuras relações, por exemplo, não é uma posição razoável. Como não é sério concentrar a esmagadora maioria das propostas na área comercial, sem prestar as garantias necessárias ao respeito pelos direitos dos cidadãos europeus residentes no Reino Unido” rematou.
Questionado sobre as recentes revelações sobre a campanha do “Leave” no referendo de Junho de 2016, Carlos Coelho afirmou que “as notícias que vieram a público sobre a violação das normas financeiras de campanhas por parte da campanha do «Leave» juntam-se às suspeitas de utilização de estratégias de campanha assentes em recolha ilegal de dados pessoais, nomeadamente através da Cambridge Analytica. Estes dois factos mancham um exercício democrático que resultou na mais importante decisão das últimas décadas dos cidadãos britânicos. Espero que a sociedade civil e os agentes políticos saibam retirar ilações destas revelações e reflictam bem nas consequências de aceitar estas práticas que minam a transparência eleitoral, a credibilidade do sistema político e, acima de tudo, a integridade do Estado de Direito”.