Jorge Moreira da Silva, sobre o fiasco de Haia, critica Ministros do Ambiente da UE

Na Sessão Plenária desta semana em Bruxelas, o Parlamento Europeu debateu os resultados da 6ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP6), que teve lugar em Haia entre 13 e 25 de Novembro.

O Deputado Jorge Moreira da Silva, que chefiou a delegação do Parlamento Europeu à COP6, afirmou na intervenção que produziu durante o debate:

  • Neste dossier das Alterações Climáticas, a União Europeia, no passado, sempre se afirmou com uma posição comum. Comum aos 15 Estados-Membros e comum ao Conselho, à Comissão e ao Parlamento. Quero por isso, antes de lamentar o resultado da Conferência de Haia, começar por lamentar o desempenho do Conselho de Ministros da União Europeia nesta Conferência. Entre os 15 Ministros do Ambiente mais do que a unidade reinou a desconfiança e a sede de protagonismo. Chegou a ser caricato que alguns Ministros tenham estado muito pouco ou quase nunca na sala das negociações mas, pelo contrário, tenham sido presença assídua nas Conferências de Imprensa.
  • Sabíamos que em Haia as negociações seriam extremamente difíceis. A conjuntura americana e a complexidade dos pontos que tinham ficado em aberto desde 1997, em Quioto, já permitiam antevê-lo. Mas diga-mo-lo claramente: Haia foi uma decepção e foi um fracasso. Foi uma decepção porque, mais uma vez, os Estados do mundo inteiro mostraram que apesar de conseguirem chegar rapidamente a acordo quando se trata de agilizar a globalização, não conseguem, sob a égide das Nações Unidas, chegar a acordo sobre os instrumentos de regulação dessa mesma globalização e de mediação entre o Homem e o Planeta. Foi um fracasso porque o objectivo da COP6 era o de passarmos à acção ultrapassando a fase de discussão, que nos tem ocupado nos últimos 8 anos. O objectivo era, assim, ratificar e implementar o Protocolo de Quioto até 2002. Infelizmente de Haia resultou simplesmente o propósito de prosseguirmos a COP6 em Bona, em Maio de 2001.
  • Para que a Conferência de Bona não resulte num novo impasse, é necessário que a União Europeia inicie uma nova opção estratégica - a de procurar na Austrália, no Japão, no Canadá, na Noruega, na Rússia e nos Países da Europa Central e de Leste, e não tanto nos Estados Unidos, as parcerias negociais imprescindíveis à ratificação do Protocolo de Quioto. O Protocolo de Quioto deve ser prioritariamente negociado com aqueles que admitem ratificá-lo e aplicá-lo, sendo que esse não é manifestamente o caso dos Estados Unidos. Para além desta acção diplomática, a União Europeia tem de re-credibilizar a sua liderança no dossier das Alterações Climáticas. A verdade triste é que a derrapagem da maioria dos 15 Estados-membros nos níveis de emissão de gases com efeito de estufa, tem enfraquecido a nossa posição internacional. Nesse sentido, convido a Comissão Europeia a apresentar nos próximos meses a Directiva-Quadro sobre o Sistema Europeu de Comércio de Emissões e a concretizar o Programa Europeu para as Alterações Climáticas e convido, os Estados-membros a apresentar nos respectivos parlamentos nacionais, os Planos Nacionais de redução de gases com efeito de estufa.